
* Andressa Almeida
No Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, celebrado em 3 de maio, é essencial reafirmar o papel vital da imprensa para a democracia e para a garantia dos direitos humanos. A liberdade de imprensa não diz respeito apenas à ausência de censura, mas à existência de condições que permitam uma comunicação plural, diversa e comprometida com a verdade. Esse é também um momento de reflexão sobre a urgência de uma comunicação antirracista como pilar de uma sociedade verdadeiramente democrática.
Em um país marcado por profundas desigualdades raciais, a imprensa tem a responsabilidade de romper com estigmas históricos, promover representações justas das populações negras e pautar, com profundidade, temas como o racismo, a violência institucional e a negação de direitos. Ao construir narrativas e legitimar vozes, os discursos veiculados na mídia não apenas informam – eles educam, orientam decisões políticas, definem prioridades sociais e moldam imaginários. O jornalismo é atravessado por escolhas editoriais que reproduzem ou enfrentam as estruturas de poder que sustentam o racismo.
Isso significa ir além da cobertura pontual de casos de racismo e assumir um compromisso contínuo com uma comunicação que valorize vozes negras, quilombolas, ciganas e periféricas – não apenas como fontes, mas como protagonistas da construção do conhecimento e da narrativa pública.
É nesse cenário que se evidencia a urgência de uma disputa ativa de sentidos. Os discursos produzidos e circulados pela mídia não apenas narram o mundo – eles o constituem. Quando repetem estereótipos, silenciam territórios ou criminalizam juventudes negras, esses discursos alimentam o racismo sistêmico. Por outro lado, quando escutam, visibilizam e dignificam essas mesmas vozes, tornam-se ferramentas de reparação e justiça. Por isso, reconhecer e fortalecer as mídias que se estruturam a partir das experiências da maioria da população brasileira – como rádios comunitárias, jornais de bairro, mídias digitais periféricas e coletivos de comunicação negra – é também ampliar o campo da liberdade de imprensa.
O Ministério da Igualdade Racial tem atuado para institucionalizar práticas de comunicação comprometidas com a equidade racial. Exemplo disso é o Plano de Comunicação pela Igualdade Racial na Administração Pública, parceria com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que parte do reconhecimento de que a comunicação é uma política pública estratégica. O plano valoriza práticas e linguagens que enfrentem o racismo sistêmico e simbólico, reconhecendo a importância das mídias comunitárias, não hegemônicas e populares, que historicamente têm rompido com os discursos coloniais e excludentes ao promover narrativas construídas a partir dos territórios e das vivências das maiorias sociais. São essas mídias que muitas vezes garantem a existência de vozes negras e periféricas nos debates públicos – e, por isso, devem ser fortalecidas.
Neste 3 de maio, precisamos reafirmar que o compromisso em defender a liberdade de imprensa é também garantir que ela seja exercida com compromisso ético e antirracista. Porque a liberdade que exclui vozes e apaga histórias não é plena. Porque uma imprensa livre e responsável deve ser aliada na construção de um Brasil que reconhece a diversidade do seu povo e trabalha ativamente para corrigir suas desigualdades históricas.
A comunicação é um instrumento de transformação. E no enfrentamento ao racismo, ela precisa ser estratégica, transversal e contínua.
*Andressa Vieira Almeida é jornalista, pesquisadora e comunicadora, com trajetória marcada pela defesa da equidade racial, justiça social e democratização da comunicação. Coordena as redes sociais da Asssessoria Especial de Comunicação Social.