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quarta-feira, junho 18
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Triste fim do histórico PSDB

Por Carlos Santiago             

         Cenas do candidato Luiz Datena (PSDB|) dando uma cadeirada no seu adversário num debate televisivo, na última eleição para prefeito da cidade de São Paulo e a vontade expressa do senador Plínio Valério (PSDB/AM) de enforcar a ministra do Meio Ambiente do Brasil, além do anúncio agonizante da busca por fusão ou por federação partidária, marcam o triste fim simbólico do tradicional Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB que governou por décadas o país e estados importantes, com grandes intelectuais, bons gestores e conciliando os melhores valores ideológicos da esquerda tradicional e da direita clássica.

      O histórico PSDB possuía expoentes da vida pública do país, como Mario Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Pimenta da Veiga, Tasso Jereissati, Geraldo Alckmin, Eduardo Azeredo, José Richa, Artur da Távola, José Serra, Ciro Gomes, Almir Gabriel, Teotônio Vilela Filho e outros que foram fundamentais ao processo de redemocratização do país, o fortalecimento das instituições de Estado e para a estabilidade econômica e política do Brasil.

         Surgiu no final dos anos 80 rompendo com os caciques populistas que dominavam o antigo Movimento Democrático Brasileiro – MDB e buscava na social-democracia e no liberalismo econômico estabelecer o tamanho do mercado e do estado na economia e nas políticas públicas, com forte compromisso com a responsabilidade fiscal e a transparências na gestão do orçamento público.

       Venceu duas eleições presidenciais e passou três vezes para o segundo turno em outras eleições que disputou. Construiu alianças políticas que agregavam liberais, conservadores, pessoas de centro e de centro-esquerda. Junto com o PT protagonizaram embates eleitorais que envolviam propostas para resolver os problemas nacionais com ativa militância acadêmica, sindical e popular.

       Governou estados como o do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pará e cidades com milhões de eleitores, como Belo Horizonte e Curitiba.  No Amazonas, o PSDB articulou uma frente ampla no ano de 1990 para disputar o governo do Estado, depois elegeu duas vezes o prefeito de Manaus, e ganhou dois mandatos no Senado Federal. Em 2017, indicou o vice-governador do Amazonas, na chapa que venceu: Amazonino Mendes (PDT) e Bosco Saraiva (PSDB).

      Depois da derrota na eleição presidencial de 2014, o PSDB resolveu apostar no impedimento da presidente Dilma Rousseff, mobilizando o Congresso Nacional, as ruas e a grande mídia. Questionou oficialmente o resultado eleitoral. Com milhões de pessoas nas ruas querendo a saída de Dilma, lideranças e partidos de Direita tornaram-se protagonistas nas manifestações. Com isso, o PSDB foi perdendo o apoio das elites financeiras, dos eleitores de direita e do papel de destaque como alternativa ao petismo e aos princípios da esquerda tradicional.

      Nos últimos anos, o partido teve membros envolvidos em crimes de corrupção e passou pelo processo de esvaziamento e de aproximação com políticos da extrema direita com pouco conteúdo intelectual, bem diferente dos ideais e da grandeza dos seus fundadores e daquilo que o país realmente precisa para resolver os seus problemas internos e externos. O PSDB histórico que representava a social-democracia acabou, só sobrou uma sigla desesperada para não desaparecer.  

*Sociólogo, advogado e cientista político.

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