Solidariedade ou fingimento? Uma crônica de Natal

Minha mãe tinha grande vivacidade para identificar “gente fingida”, aquela que mostra ser o que não é.

Fingimento é o nome popular da hipocrisia. Mas provoca mais incômodo. Mamãe sabia disso e não pensava duas vezes em chamar um hipócrita de fingido ou uma hipócrita de fingida. Acho que minha velha nem conhecia o adjetivo hipócrita.

Este mês de dezembro bem que poderia ser o mês do fingimento, representado pela cor cinza.

A gente fingida, que passa o ano sem fazer um gesto de solidariedade, se veste até de Papai ou Mamãe Noel para fingir ser o que não é.

A solidariedade não pode ser confundida com fingimento. Ela é mais do que um substantivo abstrato. É uma ação humana que não tem dia para ser praticada. Tem espírito e alma.

Sabe aquele empresário que defende o livre mercado, vai ao culto ou à igreja toda semana, dá uma cesta básica precária ao seu funcionário no fim de ano, fatura horrores de lucro, mas paga um salário de miséria para seus trabalhadores?

Pois é, esse indivíduo não tem um pingo de solidariedade, de respeito pelo ser humano. No mínimo, é um fingido,

É um falso cristão, que desconhece ou renega o profeta Mateus.

“A distribuição generosa da riqueza para atender à necessidade dos outros não obtém a vida eterna por mérito, mas demonstra que a esperança do cristão rico foi removida da “instabilidade da riqueza” e depositada em Deus, que nos dá com abundância (v. 17).”

A solidariedade é magnânima, é bonita, enobrece o ser humano e não pode ser uma peça de um único ato. É uma conduta, uma escolha de vida, uma forma de construção da humanidade. É o reconhecimento da existência do outro.

O natal é uma festa cristã que não abriga a maldade.

É preciso ter na solidariedade uma busca permanente de construção da bondade e não um momento de purgação. Os pecadores que procurem purgar seus pecados na mudança de conduta e não tentando enganar seu próprio Deus.

Que todos os meses do ano seja de solidariedade e não de fingimento.

Lúcio Carril
Sociólogo

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