Arquivo de Coluna - Portal Rio Negro Online - Notícias de Manaus e Amazonas https://portalrionegroonline.com/category/coluna/ Acompanhe notícias de Manaus e do Amazonas sobre política, polícia, economia, cultura, esporte e entretenimento. Tue, 30 Sep 2025 15:53:56 +0000 pt-BR hourly 1 https://i0.wp.com/portalrionegroonline.com/wp-content/uploads/2025/09/cropped-cropped-Design-sem-nome2.png?fit=32%2C32&ssl=1 Arquivo de Coluna - Portal Rio Negro Online - Notícias de Manaus e Amazonas https://portalrionegroonline.com/category/coluna/ 32 32 244111660 A resistência das mulheres ao fascismo https://portalrionegroonline.com/2025/09/30/a-resistencia-das-mulheres-ao-fascismo/ https://portalrionegroonline.com/2025/09/30/a-resistencia-das-mulheres-ao-fascismo/#respond Tue, 30 Sep 2025 15:53:54 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=15574 Já faz alguns anos que me chama atenção a atuação de mulheres em defesa do fascismo no Brasil. A extrema direita fez ressurgir esse fenômeno político vergonhoso da história. Não são mulheres ligadas a grupos religiosos ou mesmo a uma organização civil neofascista ou neonazista. Emergiram de outras condições. Algumas têm a atuação fascista herdada […]

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Já faz alguns anos que me chama atenção a atuação de mulheres em defesa do fascismo no Brasil. A extrema direita fez ressurgir esse fenômeno político vergonhoso da história. Não são mulheres ligadas a grupos religiosos ou mesmo a uma organização civil neofascista ou neonazista. Emergiram de outras condições.

Algumas têm a atuação fascista herdada de alguém da família, geralmente um militar simpático à ditadura ou formado sob a ótica do extermínio e apagamento de tudo que é vinculado à democracia. Outras, sem origens conhecidas, talvez sejam motivadas por traumas de infância ou são vitimas da psicologia de massa do fascismo, um pensamento sempre presente na ideologia dominante.

Não me refiro à massa de mulheres ideologizadas pelo neopentecostalismo ou por outro mecanismo de dominação e subserviência. Essas são vítimas e merecem todo respeito e tolerância. As que me causam estranheza são aquelas com mandatos, outras chamadas influencers, uma categoria disfuncional surgida no mundo digital.

Me causam estranheza porque a história das mulheres no combate ao fascismo é heróica e exemplar.

Na Itália, durante a ascensão de Mussolini, as mulheres resistiram às políticas de dominação dos seus corpos pelos programas de natalidades, que exigiam retorno às suas casas para trabalhos domésticos e reprodução humana, como se fossem máquinas de parir. Elas continuaram nos seus postos de trabalho, buscando cidadania e respeito.

Durante a segunda guerra mundial, após a invasão nazista, as mulheres italianas fizeram a resistência. 35 mil faziam parte das formações de combate, 20 mil atuavam no apoio e 75 mil se juntaram aos Grupos de Defesa das Mulheres, organizações pioneiras do feminismo na Itália.

Mais de 4.600 foram presas, torturadas e condenadas nos tribunais fascistas. 1.890 foram deportadas para a Alemanha. 683 foram baleadas ou mortas em combate. Os dados são da Associação Nacional Italiana de Partidários – ANPI.

A posição feminina de resistência não foi somente uma luta pela democracia. Elas lutavam contra o machismo, um elemento de dominação muito forte e característico do fascismo. Mussolini, por exemplo, era um conquistador bizarro e estuprador. Para ele, sempre estava “pintando um clima” com menores de idade.

Hoje, temos autores que classificam o mecanismo patriarcal de controle e opressão da mulher como “fascismo de gênero”. Trata-se de um fascismo social, cuja atuação se dá pela assimetria entre homens e mulheres, que reproduz a exclusão e a subjugação feminina.

Como sabemos, o fascismo é um regime de violência, escudado em bandeiras chauvinistas e de escolha de um inimigo comum. Seu patriotismo é desfigurado pela defesa de grupo e do anseio por poder. Não tem nada a ver com a defesa da pátria. Nem mesmo os militares fascistas são patriotas.

A atuação de mulheres fascistas é uma excrescência política, pois viola seus direitos sociais e humanos. A mulher fascista não se autorreconhece como mulher ao defender um sistema de pensamento que busca aniquilá-la social e culturalmente.

Sigamos firmes com a mulheres em defesa da democracia e da vida. Elas são muitas no Brasil democrático e seguem o exemplo das companheiras italianas e de todas que lutam em todo o mundo.

Lúcio Carril 
Sociólogo

Foto: Divulgação

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BR-319: Um novo aceno para um velho sonho https://portalrionegroonline.com/2025/09/22/vontade-politica-para-a-br-319-e-o-amazonas/ https://portalrionegroonline.com/2025/09/22/vontade-politica-para-a-br-319-e-o-amazonas/#respond Mon, 22 Sep 2025 19:21:26 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=14722 A sabedoria popular costuma dizer que a esperança é a última que morre. Na minha singela interpretação, digo: mas morre. É nesse dilema que vivemos quando o assunto é a pavimentação do trecho do meio da rodovia federal BR-319, inaugurada em 1976, fechada em 1988 e reaberta em 2015. Não faz muito tempo, a ministra […]

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A sabedoria popular costuma dizer que a esperança é a última que morre. Na minha singela interpretação, digo: mas morre.

É nesse dilema que vivemos quando o assunto é a pavimentação do trecho do meio da rodovia federal BR-319, inaugurada em 1976, fechada em 1988 e reaberta em 2015.

Não faz muito tempo, a ministra do meio ambiente, Marina Silva, anunciou a criação de um grupo interministerial para coordenar um estudo sobre a viabilidade da estrada e apresentar direções sustentáveis para a sua trafegabilidade.

Não quero dar uma de rasga-mortalha, aquela coruja que ao gritar anuncia a morte, mas quando não se quer fazer uma coisa, é só inventar um estudo ou a criação de um grupo. Quando são os dois juntos, é embromação na certa.

Já foram gastos cerca de 111,5 milhões de reais em estudos sobre a flora, fauna, arqueologia e epidemiologia em área afetada pela 319. Só na parte ambiental, o Denit diz que em dez anos foram gastos 80 milhões de reais em estudos para realização das obras. Essa grana toda incluiu um EIA-RIMA, documento exigido para licenciamento dos trabalhos de pavimentação.

Cadê esses estudos? Não valem mais nada? E a responsabilidade administrativa de quem gastou 200 milhões de reais em estudos que não serviram para nada ou não trouxeram resultado?

Não acredito que a BR-319 venha a ter trafegabilidade digna até ano que vem. Só os novos estudos deverão durar oito meses. Este mês foi publicado no Diário Oficial da União a contratação de uma empresa para iniciar os estudos, porém, o tempo não para.

Na semana passada, o senador Omar Aziz conduziu uma caravana pela BR, para ver de perto as dificuldades enfrentadas pelas populações que moram no entorno da estrada e o sufoco dos motoristas que por ali trafegam. Com certeza, apenas confirmou o estado de abandono, com ausência de serviços públicos básicos e situação propícia para o domínio de todo tipo de crime.

Na contramão dos anseios dos povos do Amazonas e Roraima está um grupo reduzido de pseudo-ambientalistas, que defendem teses superadas, como a do santuário ecológico, para se contrapor à recuperação da BR-319. São teorias trazidas dos Estados Unidos, que resultaram em dramas sociais perversos na Amazônia. Defender o isolamento do Amazonas do restante do país em nome da preservação ambiental é um equívoco profundo.

A dignidade humana e os direitos humanos de bem viver exigem o reconhecimento de 4,6 milhões de brasileiros que querem a saída e a entrada terrestre dos seus estados. Que o Estado brasileiro garanta sustentabilidade ambiental e dê segurança às populações que moram no entorno da rodovia. Hoje, somente o crime organizado está por lá.

Têm estudos sobrando. O que falta é vontade política. Que o ministério do meio ambiente faça o seu trabalho e apresente, com brevidade, um plano de proteção da fauna e da flora do entorno da 319 e outros ministérios, das áreas social e de segurança, também apresentem seus planos de atendimento às populações locais, inclusive de combate à grilagem e ao desmatamento. Bora trabalhar. Nossa gente paga impostos. Somos brasileiros.

Lúcio Carril 
Sociólogo

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A onda da impunidade e da intolerância https://portalrionegroonline.com/2025/09/20/a-onda-da-impunidade-e-da-intolerancia/ https://portalrionegroonline.com/2025/09/20/a-onda-da-impunidade-e-da-intolerancia/#respond Sat, 20 Sep 2025 19:39:30 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=14516 Por Carlos Santiago*       A última e a atual legislatura do Congresso Nacional aprovaram propostas legislativas que são contrárias a qualquer tipo de investigação, de julgamento e de punição de políticos corruptos ou administradores incompetentes, de malfeitores da sociedade e de pessoas que agem contra a administração pública e contra o bem comum. O resultado […]

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Por Carlos Santiago* 

     A última e a atual legislatura do Congresso Nacional aprovaram propostas legislativas que são contrárias a qualquer tipo de investigação, de julgamento e de punição de políticos corruptos ou administradores incompetentes, de malfeitores da sociedade e de pessoas que agem contra a administração pública e contra o bem comum. O resultado da votação da PEC da impunidade que blinda políticos criminosos e corruptos – com a velha narrativa de assegurar a imunidade parlamentar-, é só mais um exemplo e é, também, uma demonstração de como as narrativas do novo na política e do antissistema foram usadas para promoção de grandes retrocessos políticos, combate à democracia e às instituições do Estado.

       Antes da PEC da impunidade ou da blindagem, os legisladores concordaram com o enfraquecimento da Lei de Improbidade e a Lei da Ficha Limpa, além da aprovação da PEC da Anistia que beneficiou partidos políticos que não investiram em candidaturas femininas e negras.  Quando se tem um parlamentar, “representante do povo”, votando em leis que objetivam impunidades, é um sinal claro de que o eleitorado precisa ter consciência e responsabilidade na hora de votar. Não é possível construir um país justo e sem corrupção com políticos que querem fugir da Justiça. E quando isso acontece, a boa política não prospera. 

           Isso tudo ainda é o reflexo de manobras ideológicas que ocorreram pós manifestações de 2013, que envolveram milhões de brasileiros: a maioria dos manifestantes criticava as instituições de Estado (Congresso Nacional, Poder Judiciário e a presidência da República), a política tradicional e a falta de prioridades importante em serviços essenciais nos gastos públicos; depois veio a operação Lava Jato que contou com 80 fases operacionais autorizadas que objetivava combate à corrupção na Petrobrás; e em seguida o afastamento da presidente da República. No entanto, aquilo que parecia verdadeiro sentimento popular, foi capturado por um movimento religioso conservador, anticiência, antiambientalismo, antidemocracia,  antipolítica e contra os povos indígenas. 

       Nas eleições de 2016 e de 2018, novos mandatários foram eleitos com a narrativa do “novo” e da antipolítica:  Bolsonaro (presidente), João Dória (São Paulo), Wilson Lima (Amazonas), Wilson José Witzel (Rio de Janeiro), Zema (Minas Gerais), Antônio Denarium (Roraima), Marcos Rocha (Rondônia), Wanderlei Barbosa (Tocantins), Carlos Moisés (Santa Catarina), Ratinho Júnior (Paraná) e outros. A renovação no Senado, em 2018: das 54 vagas em disputa, 46 foram ocupadas por novos nomes — renovação de mais de 85%. Na Câmara dos deputados, foram 243 novos legisladores, uma renovação de 47,3%, número muito acima da média. 

       Diante desse cenário político, ficam algumas perguntas: a política melhorou? A qualidade dos políticos melhorou?  A corrupção nos governos acabou? Os serviços públicos oferecidos pelo Poder Público melhoraram? As Casas Legislativas estão trabalhando para o bem comum de todos? O eleitorado está votando com responsabilidade?  Enquanto ficamos analisando as respostas, a impunidade e a blindagem de políticos corruptos avançaram.

      Para piorar, olho para a Europa e para os Estados Unidos da América. Vejo ódio, anticiência, racismo, antiambientalismo, nacionalismo, fundamentalismo religioso, anti-multiculturalismo, agressões contra as instituições de Estado e contra a democracia. Acredito que o Brasil entrou nessa onda, depois das manifestações de 2013, e seguirá nela, e não sei até quando

 *sociólogo, Cientista Político e Advogado.

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O amor não correspondido do venezuelano por Donald Trump https://portalrionegroonline.com/2025/08/13/o-amor-nao-correspondido-do-venezuelano-por-donald-trump/ https://portalrionegroonline.com/2025/08/13/o-amor-nao-correspondido-do-venezuelano-por-donald-trump/#respond Wed, 13 Aug 2025 19:01:38 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=11210 Ele se confunde com coisas simples. Não sabe diferenciar o boi Caprichoso do boi Garantido, o curimatã da matrinxã e mistura os nomes dos clientes. Chama Mateus de Marcos e se refere a Lucas como João. Apesar disso, é um baita barbeiro, respeitado no Parque Dez e conhecido também pelas histórias de amor quase incondicional […]

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Ele se confunde com coisas simples. Não sabe diferenciar o boi Caprichoso do boi Garantido, o curimatã da matrinxã e mistura os nomes dos clientes. Chama Mateus de Marcos e se refere a Lucas como João. Apesar disso, é um baita barbeiro, respeitado no Parque Dez e conhecido também pelas histórias de amor quase incondicional ao presidente Donald Trump.

    O venezuelano Juan Pablo chegou ao Brasil antes da pandemia da covid-19, já que a situação política e econômica de seu país expulsava milhões de pessoas. Além disso, queria juntar muito dinheiro para morar nos Estados Unidos da América. Trabalhou em vários locais e em diversas atividades econômicas.

      Foi ajudante de pedreiro, garçom de boate, atendente de loja de material de construção, banhista de animais em pet shop, mototaxista e, por último, cabeleireiro. Comia enlatados, bebia água de poço, não gastava com lazer e nem dava dízimo à igreja que frequentava. Fez uma sofrida poupança e pagou caro a um indivíduo que o levaria para morar nos EUA. Juan desejava muito viver no país de seu ídolo político, o bilionário Donald Trump.

    Esse amor por Donald Trump começou quando Juan tinha 20 anos e o bilionário assumia o primeiro mandato no governo americano. O venezuelano era tão sentimental em relação a Trump que ficava feliz com os ataques do americano ao presidente de seu próprio país e delirava com os discursos trumpistas de oposição a negros, pobres e comunistas, embora Juan não soubesse diferenciar comunismo de capitalismo, liberalismo de socialismo e social-democracia de neoliberalismo.

     Ficou muito deprimido com a derrota de Trump para o democrata Biden. Defendeu os atos contra o resultado das eleições, apoiou a invasão do Capitólio e queria a permanência do presidente por meio de golpe. Não sabia, nem queria saber, distinguir democracia de autoritarismo e de totalitarismo. Nunca se interessou por seus significados e práticas. Para ele, Trump tinha que ficar para combater o comunismo. E pronto.

     Depois de uma nova vitória de Trump e de economizar por anos, Juan entendeu que era hora de morar nos EUA e finalmente realizar seu sonho. Era só alegria, dizia ele aos amigos do salão de beleza e aos clientes, pois ia residir na terra de Trump, onde “Deus, Pátria e Família” é o lema. Um país livre, sem tiranos e com liberdade de expressão.

     Eu não via o venezuelano desde março. Todos diziam que ele tinha viajado. Há quinze dias, quando cheguei à barbearia para cortar o cabelo, ele estava lá: frustrado, mas sorridente. Contou que conseguiu entrar nos EUA de forma ilegal, pela fronteira com o México, sofreu muito e gastou tudo o que economizou. Mas foi abordado por policiais e levado à prisão. Silenciado, maltratado, indesejado e expulso, retornou ao Brasil. Atribuía a expulsão ao fato de ter nascido na Venezuela e dizia que gostaria de ter nascido nos EUA. Nada, segundo ele, era culpa das ordens do presidente Trump.

    No último fim de semana, vi-o novamente, agora numa passeata, segurando a bandeira dos Estados Unidos, juntamente com centenas de brasileiros, defendendo os atos de Trump contra o Brasil e o mundo. Gritavam: “Trump tem razão, intervenção americana já”. Para ele e para os amigos brasileiros, soberania e cooperação multilateral são conceitos complexos e difíceis de entender. E o amor dele por Trump segue inabalável, esperando um dia ser correspondido.

*Sociólogo, Cientista Político e Advogado

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A dimensão do preconceito https://portalrionegroonline.com/2025/08/13/a-dimensao-do-preconceito/ https://portalrionegroonline.com/2025/08/13/a-dimensao-do-preconceito/#respond Wed, 13 Aug 2025 18:57:35 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=11207 Estamos acostumados a ver e tratar o preconceito na sua restrita e explícita ação. É homofóbica a manifestação grosseira. É misógina e/ou machista as ações criminosas e opressivas e no preconceito racial nos indignamos com o discurso e a prática da Casa Grande. Mas o preconceito existe de forma mais profunda e estruturada. Ele elimina […]

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Estamos acostumados a ver e tratar o preconceito na sua restrita e explícita ação. É homofóbica a manifestação grosseira. É misógina e/ou machista as ações criminosas e opressivas e no preconceito racial nos indignamos com o discurso e a prática da Casa Grande.

Mas o preconceito existe de forma mais profunda e estruturada. Ele elimina o outro, seja através da imposição da sua verdade, pelo desejo de se sentir superior ou pelo interesse de poder. O preconceituoso é autoritário e o preconceito está entranhado no tecido social.

O preconceito está presente no cientista que se acha o dono da verdade e que vê na sua verdade uma verdade superior às demais verdades do mundo. Ele, o preconceito, é escroto e não é um desvio que afeta apenas os ignorantes.

Ele é um instrumento de poder.

O preconceito é opressivo e não é uma ação espontânea. Ele é uma ideologia construída, uma forma e um conteúdo que buscam a imposição pela desqualificação do outro.

Ninguém nasce racista, homofóbico ou misógino. Isso tudo é construído e pode se manifestar de várias maneiras. Não se trata de uma prática esporádica, mas de uma conduta. Às vezes, o indivíduo nem sabe que está sendo preconceituoso, mas está. Ele nem sabe que está sendo racista, mas está. É estrutural.

O preconceito não deve ser combatido apenas com a punição legal. Ele deve ser enfrentado nas escolas, nas famílias e em toda sociedade como uma vergonha para a humanidade e para qualquer ser humano. É preciso mostrar como ele se manifesta e oprime.

O preconceito é uma ideologia e não somente um desvio de caráter.

O machista é um preconceituoso que envergonha a condição humana. O homofóbico também, mas por vezes é um traumatizado que reprime sua sexualidade. O machista pode ser um homem que tem inveja da feminilidade da sua companheira e a discrimina por isso.

Eles foram ensinados a reprimir suas pulsões e essa autorrepressão vira opressão ao outro.

Tem muita coisa por trás do preconceito e do preconceituoso. O combate a essa conduta deve se dar na autorreflexão, na busca por se libertar da maldade construída por quem quer manter a humanidade na mesquinharia.

Mesmo o preconceito se tratando de construção ideológica da classe dominante, imposta à classe dominada, ele não pode ser combatido apenas no campo objetivo.

No diálogo com a subjetividade, o indivíduo pode se reconstruir como ser sensível, terno e humano, sem se deixar oprimir pela espada infame da subjugação e da humilhação.

Lúcio Carril
Sociólogo

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Não viverei https://portalrionegroonline.com/2025/07/15/nao-viverei/ https://portalrionegroonline.com/2025/07/15/nao-viverei/#respond Tue, 15 Jul 2025 15:55:18 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=9160 Por Carlos Santiago* Já vivi o bastante para presenciar a maior revolução tecnológica de todos os tempos; aviões voando na velocidade da luz; conexões de bilhões de pessoas por via digital instantaneamente; satélites que mostram cada pedacinho do planeta Terra em tempo real; e a chegada do homem à Lua.     Vivi para contemplar a […]

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Por Carlos Santiago*

Já vivi o bastante para presenciar a maior revolução tecnológica de todos os tempos; aviões voando na velocidade da luz; conexões de bilhões de pessoas por via digital instantaneamente; satélites que mostram cada pedacinho do planeta Terra em tempo real; e a chegada do homem à Lua.

    Vivi para contemplar a construção da linha de trem que passa debaixo do mar; para acompanhar um trem-bala interligando cidades em minutos; para testemunhar a criação de moderníssimas cidades no deserto e sob águas marinhas.

    Já vivi muito para usar descobertas científicas que salvaram milhões de homens e de animais por meio de vacinas; e para acompanhar, a partir de uma tela de computador, cirurgias humanas realizadas por inteligência artificial; e também para assistir pela televisão uma ovelha clonada, uma fantástica revolução dos estudos da genética.

       Já vivi o suficiente para o planeta Terra girar mais de cinquenta vezes ao redor do Sol; vivi para comer fruta, plantar a semente, vê-la tornar-se árvore e frutificar dezenas de vezes com uma enorme sombra; para sorrir com o nascimento de uma criança e participar de sua formação acadêmica; mas vivi também para observar inúmeras vezes as cheias e as secas dos rios amazônicos entre alegrias e tristezas.   

     Esses ganhos tecnológicos trazidos pela razão científica e o magnífico e permanente movimento da natureza produzindo vidas vão fazer parte da minha vivência positiva no mundo até findar a existência. Gostaria de ter vivido outras realizações humanas que jamais viverei, uma limitação natural da vida.

     Enfim, não viverei para constatar a paz no mundo; nem os povos  irmanados para construir fraternidade e cooperações com respeito em que a lei do mais forte não será a regra das relações entre as pessoas e as culturas; não viverei em um planeta sem armas.

      Não viverei num mundo sem desigualdades econômicas, sem miséria, sem escravidão, sem violência, sem governantes corruptos e gananciosos, sem religiões que pregam a morte e o genocídio de povos.      

    Não viverei num mundo com a maioria de homens e de mulheres preocupada com a degradação do meio ambiente, com o bem-estar dos outros animais, com a poluição dos mares e com as destruições das florestas.      

    Não viverei num planeta sem luta por terras, sem a busca pelo poder e por tolas vaidades. Um lugar onde ninguém será julgado pela cor, pela riqueza material, pela sua forma de viver a vida e amar o outro. 

   O  Homem tem a capacidade de alcançar revoluções tecnológicas quase impossíveis, mas é incapaz de resolver aquilo que só precisa de boa vontade.    .  Vivi para ser um homem que tenta traduzir o tempo presente. E se eu tiver muita sorte, partirei sem ser impactado por uma bomba atômica. Na certeza de que viveria melhor se houvesse mais fraternidade e paz, e menos tecnologia. 

    As algemas econômicas, religiosas e ideológicas criadas pela humanidade estão destruindo o planeta e produzindo um mundo inquieto, egoísta em que governantes vivem em luxuosos gabinetes, enquanto jovens morrem e matam em guerras insanas. 

     Não viverei tempos melhores. John Lennon imaginou um mundo que não existisse “nenhum motivo para matar ou morrer” e foi assassinado. Fica o tempo futuro para quem acredita no homem no planeta Terra. Isso eu não viverei.

*Sociólogo, Cientista Político e Advogado.

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Motos, motociclistas e buracos em Manaus https://portalrionegroonline.com/2025/06/24/motos-motociclistas-e-buracos-em-manaus/ https://portalrionegroonline.com/2025/06/24/motos-motociclistas-e-buracos-em-manaus/#respond Tue, 24 Jun 2025 13:37:08 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=7214 Acordo nesta segunda-feira com a trágica notícia da morte de uma mulher grávida, vítima de acidente de moto numa das principais avenidas de Manaus. Seu marido, o condutor, perdeu o equilíbrio do veículo após passar por um buraco. Morreu a mãe e o beber, prestes a nascer. Infelizmente, não se trata de um caso isolado. […]

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Acordo nesta segunda-feira com a trágica notícia da morte de uma mulher grávida, vítima de acidente de moto numa das principais avenidas de Manaus. Seu marido, o condutor, perdeu o equilíbrio do veículo após passar por um buraco. Morreu a mãe e o beber, prestes a nascer.

Infelizmente, não se trata de um caso isolado.

Manaus virou um caos em acidente envolvendo motociclistas. Em 2024, das 309 mortes no trânsito, 158 foram motociclistas, segundo o Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU). Um aumento de 32% em relação ao ano anterior.

O Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (DETRAN-AM) anunciou que em abril deste ano Manaus atingiu 1.004.021 veículos registrados. Desse total, 455.608 são automóveis e 337.464 são motocicletas. São 2,27 habitantes por veículos. No ano 2000, eram 8,3 Hab./Veic.

Esses números revelam a dimensão de um caos no trânsito de Manaus quando sabemos que apenas 2% da frota são para transporte coletivo e 93% são para transporte privado, que atende a menor parte da população.

Com um sistema de transporte público deficitário, que nunca melhora, aumentou o número de motos fazendo esse serviço, mas também aumentou o número de acidentes. Entre 2020 e 2024, foram 1.228 mortes de motociclistas em todo o estado, o que representou 54% dos óbitos por acidentes terrestres no Amazonas. Desse total, 60,9% foram em Manaus.

É certo que houve um crescimento de acidentes com vítimas fatais no trânsito em todo o país, segundo o Atlas da Violência do IPEA, divulgado este ano. Em 2023, foi registrado um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior. Já especificamente com acidentes envolvendo motocicletas, a alta foi de 12,5%. O Amazonas ficou em 5ª posição, com 57,3% dos óbitos causados por acidentes envolvendo motocicletas.

E os custos para o país e para a sociedade?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em países com renda como a do Brasil, os custos com acidentes de trânsito podem variar entre 3% a 5% do PIB. Somente com internações de motociclistas, as despesas do SUS ultrapassaram 2,4 bilhões de reais entre 2014 e 2024.

Entre os meses de janeiro e novembro de 2024, o custo com as internações de motociclistas acidentados no SUS foi de R$ 233,3 milhões. Foram 148.797 motociclistas internados no sistema de saúde público, em decorrência de acidentes em todo o Brasil.

O custo médio de um paciente acidentado para o SUS é em torno de 60 mil reais/mês, incluindo internações, cirurgias e reabilitação.

Estamos falando de um problema de profunda gravidade social. Tanto os acidentes que deixam as vítimas sequeladas como as mortes afetam milhares de famílias. A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) calcula que para cada paciente hospitalizado, outras quatros pessoas são impactadas.

E os buracos do prefeito?

Como se não bastasse o sistema caótico de transporte coletivo com uma das maiores tarifas do país, o sistema viário de Manaus não suporta tanto veículos. O crescimento da cidade não foi planejado e os gestores que passaram pela prefeitura sequer sabem o que é planejamento. Há um acúmulo de estupidez e descaso.

Manaus terá este ano um orçamento de 10,5 bilhões de reais. Somam-se a esse valor, os mais de 4 bilhões de empréstimos feitos pela gestão do atual prefeito. É dinheiro saindo pelo ralo. Pelo ralo mesmo, porque não tem dado nem para tapar os buracos das principais vias da capital, o que tem provocando aumento dos acidentes, principalmente com motocicletas. Acidentes com vítimas fatais e muita gente internada nos hospitais públicos.

São quase 15 bilhões de reais para execução neste ano, considerando orçamento e empréstimos. Como que Manaus continua um caos no transporte coletivo, nas vias de trânsito, com calçadas quebradas, faltando remédios nos postos de saúde, etc.? Não há explicação plausível.

Em relação ao trânsito, principalmente sobre o transporte de motocicletas, a prefeitura de Manaus precisa elaborar uma política para tratar do problema. Não dá pra ficar fazendo de conta que está tudo bem, enquanto pessoas morrem ou ficam por meses hospitalizadas, outras tantas com sequelas pelo resto da vida.

É preciso reunir com empresas que usam o serviço de entrega com motos e elaborar um plano para melhorar a educação de trânsito dos condutores. É preciso criar um plano de melhoria das vias de Manaus, sem embromação e mentiras. É preciso inserir no currículo das escolas da Semed a educação no trânsito. Essas escolas atendem crianças e nelas é possível criar uma cidade mais cidadã, com respeito ao outro.

Na Espanha foi feito isso e houve uma redução de 60% dos acidentes. São medidas a médio e longo prazos, planejadas, mas necessárias. É fundamental o olhar para a educação das novas gerações.

É preciso fazer muitas coisas, inclusive uma gestão pública mais responsável e humana. Manaus agradece.

Lúcio Carril 
Sociólogo

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Triste fim do histórico PSDB https://portalrionegroonline.com/2025/06/17/triste-fim-do-historico-psdb/ https://portalrionegroonline.com/2025/06/17/triste-fim-do-historico-psdb/#respond Tue, 17 Jun 2025 21:11:16 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=6258 Por Carlos Santiago                       Cenas do candidato Luiz Datena (PSDB|) dando uma cadeirada no seu adversário num debate televisivo, na última eleição para prefeito da cidade de São Paulo e a vontade expressa do senador Plínio Valério (PSDB/AM) de enforcar a ministra do Meio Ambiente do Brasil, além do anúncio agonizante da busca por fusão ou […]

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Por Carlos Santiago             

         Cenas do candidato Luiz Datena (PSDB|) dando uma cadeirada no seu adversário num debate televisivo, na última eleição para prefeito da cidade de São Paulo e a vontade expressa do senador Plínio Valério (PSDB/AM) de enforcar a ministra do Meio Ambiente do Brasil, além do anúncio agonizante da busca por fusão ou por federação partidária, marcam o triste fim simbólico do tradicional Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB que governou por décadas o país e estados importantes, com grandes intelectuais, bons gestores e conciliando os melhores valores ideológicos da esquerda tradicional e da direita clássica.

      O histórico PSDB possuía expoentes da vida pública do país, como Mario Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Pimenta da Veiga, Tasso Jereissati, Geraldo Alckmin, Eduardo Azeredo, José Richa, Artur da Távola, José Serra, Ciro Gomes, Almir Gabriel, Teotônio Vilela Filho e outros que foram fundamentais ao processo de redemocratização do país, o fortalecimento das instituições de Estado e para a estabilidade econômica e política do Brasil.

         Surgiu no final dos anos 80 rompendo com os caciques populistas que dominavam o antigo Movimento Democrático Brasileiro – MDB e buscava na social-democracia e no liberalismo econômico estabelecer o tamanho do mercado e do estado na economia e nas políticas públicas, com forte compromisso com a responsabilidade fiscal e a transparências na gestão do orçamento público.

       Venceu duas eleições presidenciais e passou três vezes para o segundo turno em outras eleições que disputou. Construiu alianças políticas que agregavam liberais, conservadores, pessoas de centro e de centro-esquerda. Junto com o PT protagonizaram embates eleitorais que envolviam propostas para resolver os problemas nacionais com ativa militância acadêmica, sindical e popular.

       Governou estados como o do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pará e cidades com milhões de eleitores, como Belo Horizonte e Curitiba.  No Amazonas, o PSDB articulou uma frente ampla no ano de 1990 para disputar o governo do Estado, depois elegeu duas vezes o prefeito de Manaus, e ganhou dois mandatos no Senado Federal. Em 2017, indicou o vice-governador do Amazonas, na chapa que venceu: Amazonino Mendes (PDT) e Bosco Saraiva (PSDB).

      Depois da derrota na eleição presidencial de 2014, o PSDB resolveu apostar no impedimento da presidente Dilma Rousseff, mobilizando o Congresso Nacional, as ruas e a grande mídia. Questionou oficialmente o resultado eleitoral. Com milhões de pessoas nas ruas querendo a saída de Dilma, lideranças e partidos de Direita tornaram-se protagonistas nas manifestações. Com isso, o PSDB foi perdendo o apoio das elites financeiras, dos eleitores de direita e do papel de destaque como alternativa ao petismo e aos princípios da esquerda tradicional.

      Nos últimos anos, o partido teve membros envolvidos em crimes de corrupção e passou pelo processo de esvaziamento e de aproximação com políticos da extrema direita com pouco conteúdo intelectual, bem diferente dos ideais e da grandeza dos seus fundadores e daquilo que o país realmente precisa para resolver os seus problemas internos e externos. O PSDB histórico que representava a social-democracia acabou, só sobrou uma sigla desesperada para não desaparecer.  

*Sociólogo, advogado e cientista político.

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As Adegas e o preconceito social https://portalrionegroonline.com/2025/06/13/as-adegas-e-o-preconceito-social/ https://portalrionegroonline.com/2025/06/13/as-adegas-e-o-preconceito-social/#respond Fri, 13 Jun 2025 21:09:50 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=5553 Foi apenas no ano passado que tive conhecimento das chamadas Adegas, em Manaus. Tratam-se de encontros festivos de jovens, com música alta, dança, bebidas alcoólicas e sociabilização entre grupos. São jovens da periferia, sem espaços de lazer, cultura e esporte onde moram, que resolveram criar um ambiente de descontração a custos baixos, com músicas tocadas […]

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Foi apenas no ano passado que tive conhecimento das chamadas Adegas, em Manaus. Tratam-se de encontros festivos de jovens, com música alta, dança, bebidas alcoólicas e sociabilização entre grupos.

São jovens da periferia, sem espaços de lazer, cultura e esporte onde moram, que resolveram criar um ambiente de descontração a custos baixos, com músicas tocadas em potentes caixas de som, venda de cervejas a preços promocionais e onde também podem levar suas batidas em garrafas de pets, preparadas em grupo antes das festas.

Não tardou para o movimento sofrer discriminação, com grande parte da mídia manauara fazendo uma campanha para criminalizar esses encontros, criando estigma como espaço de violência, consumo de drogas e poluição sonora.

Não é a primeira vez que um movimento espontâneo da juventude sofre preconceito embalado por profissionais despreparados, que usam os meios de comunicação para propagarem suas frustrações pessoais ou mesmo sua hipocrisia velada.

As raves sofreram essa perseguição.

Com luzes fortes, batidas estridentes da música eletrônica, dança interativa, as raves eram- e são – espaços de expressão artísticas e de sociabilidade entre grupos e tribos urbanas. No entanto, suas festas foram duramente reprimidas, mesmo ocorrendo em galpões abandonados e lugares afastados. O estigma para a repressão era o mesmo: uso de drogas.

Hoje, as raves são promovidas até mesmo por empresas de eventos e seguem como espaço jovem.

As Adegas, assim como as Raves, surgiram da ausência do Estado nas periferias das grandes cidades, onde não há espaço de lazer, não existem centros culturais, as políticas públicas de promoção cultural não chegam, as escolas permanecem fechadas no fim de semana, com seus ginásios esportivos e salas sem acesso para a comunidade. Enfim, não tem para onde escapar no fim de semana e sair do cotidiano massacrante.

As Adegas, assim como as Raves, são espaços de transgressão, de liberdade, de fuga do estresse diário imposto pela carência social. Lá, os jovens bebem, dançam, ouvem as músicas da sua geração, interagem com outros jovens e outros grupos de bairros diferentes. É o momento de dar um tempo para as regras sociais que lhes consomem e pouco oferecem de bom.

As posições que tentam estigmatizar as Adegas são as mesmas que protegem os territórios elitizados de Manaus, onde as drogas correm soltas, a violência é praticada com sadismo, mulheres são estupradas e surradas por homens drogados e sórdidos. Para esses lugares, nenhuma campanha da mídia para intervenção policial, para fechamento dos bares nos quais se cometem assassinatos e agressões. É muita hipocrisia e pouco profissionalismo.

As Adegas apenas reproduzem a vida como ela é na periferia. Lá, digo, aqui, pois escrevo este texto na minha casa, no bairro da redenção, área favelizada na zona centro-oeste de Manaus, no sábado e no domingo, o trabalhador abre o porta-malas do seu calhambeque e põe seu potente som para tocar. Um vizinho põe a churrasqueira e o outro já aparece com a caipirinha. Pronto, a Adega está montada.

Deixem nossa gente ser feliz. Deixem nossos jovens construírem seus espaços de descontração. Se o Estado está preocupado com as drogas e uma violência esporádica, que se ponha a serviço dessa juventude, sem preconceito, apenas cumprindo seu papel institucional. A juventude não quer cacetete e balas, quer política pública de inclusão social e respeito.

Lúcio Carril
Sociólogo

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Pela BR-319, contra o projeto da devastação https://portalrionegroonline.com/2025/06/03/pela-br-319-contra-o-projeto-da-devastacao/ https://portalrionegroonline.com/2025/06/03/pela-br-319-contra-o-projeto-da-devastacao/#respond Tue, 03 Jun 2025 17:26:32 +0000 https://portalrionegroonline.com/?p=3693 Semana passada, o Brasil presenciou uma das mais grotescas cenas protagonizadas no senado federal, tendo como atores dois senadores canastrões, um do estado de Rondônia e outro do Amazonas, contra a ministra do meio ambiente, Marina Silva. Apesar de envolver três políticos da região norte, o foco foi o Planeta Terra. O motivo do debate […]

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Semana passada, o Brasil presenciou uma das mais grotescas cenas protagonizadas no senado federal, tendo como atores dois senadores canastrões, um do estado de Rondônia e outro do Amazonas, contra a ministra do meio ambiente, Marina Silva. Apesar de envolver três políticos da região norte, o foco foi o Planeta Terra.

O motivo do debate foi em torno da pavimentação da BR 319, rodovia que liga o Amazonas ao restante do Brasil, mas por trás da posição não revelada dos senadores estava a defesa de setores econômicos contrários à sustentabilidade ambiental e, até mesmo, interesse particular, como no caso do senador Plínio Valério, do Amazonas.

Plínio Valério já foi denunciado por tentar licença para explorar ouro em Terras Indígenas, no município de São Gabriel da Cachoeira. Em 1983, ele entrou com cinco pedidos no órgão federal responsável. Todos foram rejeitados. O senador tucano, que já foi da ARENA, partido de sustentação política da ditadura militar, também é conhecido por possuir área na RDS tupé, em Manaus, onde aluga para turistas, atividade proibida por lei.

A BR 319 é só uma cortina de fumaça.

O foco central é o PL 2159/2021, em tramitação no Congresso Nacional, conhecido como PL da devastação, que acaba com o licenciamento ambiental, ameaça os ecossistemas e as populações tradicionais e põe em risco o Brasil e o planeta.

Mas e a BR 319? Ela será beneficiada pelo fim do licenciamento?

A BR 319 está com seu entorno todo protegido, com áreas destinadas para reforma agrária e unidades de conservação. Ainda no primeiro governo Lula, se iniciou o processo de proteção das áreas pertencentes à União, com a decretação de uma ALAP – Área de Limite Administrativo Provisório, e, posteriormente, foi feita sua destinação, a partir de audiências públicas e reuniões da câmara técnica criada em Brasília.

O que falta é a presença do Estado Brasileiro para proteger essas áreas, de acordo com a Constituição Federal. As três esferas do executivo têm responsabilidades, inclusive o ministério do meio ambiente, que tem obrigação de criar um plano de proteção das Unidades de Proteção, da floresta e dos recursos hídricos. O MMA tem que coordenar essa ação e deixar de querer terceirizar o problema para os buracos, lamas e pontes caídas.

Marina Silva não pode ser o bode expiatório contrário à BR 319, mas hoje ela é a ministra do meio ambiente. É bom lembrar que foi durante seu exercício no MMA, de 2003 a 2008, que o entorno da rodovia foi blindado e se iniciou o processo de construção do EIA/RIMA para pavimentação da estrada.

Marina não é inimiga do Amazonas. Essa missão é do senador Plínio Valério e seu espírito de destruição do meio ambiente e de todos valores morais, éticos e de boa educação.

A BR 319 não pode servir de cortina de fumaça para os inimigos do meio ambiente, assim como Marina Silva não pode se eximir da responsabilidade de construir políticas de proteção ambiental da rodovia. A estrada já existe há 50 anos e hoje é uma rodovia federal sem lei, pela ausência do Estado.

Grileiros, madeireiros ilegais e outros criminosos viraram senhores feudais das terras tradicionalmente ocupadas por indígenas, ribeirinhos, agricultores familiares, extrativistas e outros povos da floresta.

Na esteira desse problema e facilitando a ação do crime na BR, está o terrorismo ambiental contra a rodovia, com a criação fake news como a de que a pavimentação da estrada vai acabar com a vida no planeta, a partir da abertura de um corredor para novas pandemias ou que o fim dos buracos, lama e pontes caídas acabarão com a economia no sul do país.

Tem um malfazejo fazendo isso e recebendo apoio da mídia corporativa, que também tem interesse no isolamento terrestre do Amazonas e na ação impune do crime organizado na Amazônia.

A BR 319 é um direito do povo do Amazonas, mas queremos preservação ambiental e segurança para nossos povos. O Estado brasileiro tem essa obrigação constitucional.

Lúcio Carril 
Sociólogo

Imagem: Portal SGC

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